terça-feira, 14 de maio de 2013

Mulheres se saem melhor na chefia do que homens



Foi-se o tempo em que só homens podiam chefiar uma empresa. Eles ainda ganham salários mais altos, é verdade, mas elas já ocupam mais cargos de liderança do que há 10 anos (só 15% dos cargos de presidência eram ocupadas por mulheres; hoje são 23%). Ok, a diferença ainda é grande. Mas, fiquem vocês sabendo, um estudo canadense garante: elas se saem muito melhor como chefes do que os homens.

Para chegar à conclusão, os pesquisadores perguntaram a 600 diretores do alto escalão (75% deles eram homens e 25% mulheres) como tomavam decisões e cuidavam dos assuntos da empresa.

Em geral, os homens são mais quadrados, seguem as regras ao pé da letra, não fogem do tradicional. E tampouco se importam se as decisões vão agradar ou prejudicar outros empregados ou investidores. Já as mulheres preferem consultar outros membros da empresa antes de bater o martelo. Ou seja, levam em conta a opinião de toda a equipe e pensam nas consequências negativas daquela decisão. Ou seja, são mais justas. Além disso, buscam soluções mais inovadoras e arriscadas.

E isso é bom não apenas pela igualdade entre os gêneros, mas pelos negócios. “Nós já sabíamos que as empresas com mulheres na direção têm resultados melhores. Agora provamos que ter uma mulher na diretoria não é só uma decisão certa, é uma decisão inteligente”, explica Chris Bart, autor do estudo.

Então, pode até ser que eles realmente dirijam melhor um carro do que as mulheres. Mas se o caso for dirigir uma empresa, melhor deixar com elas.

Crédito da foto: flickr.com/ koencobbaert



Seus amigos valem R$ 240 mil por ano





Amizade não tem preço? Bem, tem sim — e não é barato.

Pesquisadores da Universidade de Londres resolveram calcular o quanto o bem-estar causado pelo hábito de passar tempo com os amigos equivale em termos financeiros. O resultado: 85 mil libras (ou cerca de 240 mil reais) anuais.

Enquanto isso, aumentos de salário, de fato, contribuem bem pouco para a felicidade geral do povo — é a conclusão a qual os caras chegaram analisando dados de uma pesquisa feita em cerca de 10 mil domicílios de todo o Reino Unido.

Outros números bacanas do estudo: se casar equivale a um bônus de 140 mil reais na conta bancária; se divorciar, a um débito de 390 mil; perder o emprego, a menos 400 mil.


Créditos da foto: Friends

6 curiosidades científicas sobre a amizade




A semana tá acabando e você, provavelmente, vai recorrer a alguns bons amigos para aproveitar os próximos dias de folga. Mas quer uma dica para decidir para quem ligar? Bom, parceiro que é parceiro boceja junto com você. E detesta seus inimigos. Entendeu? Não? Então dá uma olhada nessa lista de curiosidades científicas sobre a amizade.

FALAR MAL É O MELHOR NEGÓCIO
Se você estiver sem amigos, aí vai a primeira dica: falar mal dos outros é a melhor maneira de fazer amizade. Parece pobre, né? Mas é real. Pesquisadores americanos pediram a algumas pessoas para contar como nasceram as amizades mais fortes e como agiam, quando estavam juntos, em relação às outras pessoas (a tendência mais forte era falar mal do pessoal ao redor). Num teste final, perceberam ainda que as chances de você gostar de alguém aumentam quando os dois lados fazem os mesmos comentários sobre a vida alheia.

UM POR TODOS E TODOS POR UM
É que não adianta: inimigo do seu amigo só pode ser seu inimigo. Pessoas que dividem a mesma opinião negativa sobre alguém se sentem muito mais próximas. Segundo outra pesquisa americana, isso acontece porque dividir uma mesma opinião ruim acaba com aquele climão do primeiro encontro, quando, geralmente, as pessoas escondem seus defeitos. Falar mal sobre a mesma pessoa gera uma espécie de “subjetividade familiar”.

PROXIMIDADE MÍNIMA

Não adianta, se você não quiser deixar uma amizade morrer precisa manter contato. E isso exige tanto assim de você. Segundo pesquisa da Universidade de Notre Dame e da Pontífica Universidade Católica do Chile, se você quiser manter um amigo bem próximo, terá de ligar a ele pelo menos uma vez a cada 15 dias. E nunca, nunca deixe de retornar as ligações.

EMPATIA
Se cumprir esse trato implícito, vocês podem ser bons amigos. E compartilhar sentimentos – e bocejos! Sim, bocejo é uma demonstração de empatia. Durante um ano, pesquisadores da Itália saíram pelas ruas para observar e conversar com pessoas. E perceberam que entre amigos e parentes o bocejo é contagiante. Segundo a pesquisa, quando não há amizade, a pessoa até vê o bocejo da outra, mas não se deixa levar.

UM MILHÃO DE AMIGOS
Não, nem você, nem o Roberto Carlos vão ter um milhão de amigos. Existe um número máximo, postulado pelo antropólogo Robin Dunbar. Segundo pesquisa do antropólogo, nosso cérebro não dá conta de memorizar e manter laços com mais de 150 pessoas.

AMIGO NÃO TEM PREÇO
Tudo bem se você não chegar nem perto dos 150 amigos. Só o fato de ter algum amigo já vale a pena. Muito a pena: quase 240 mil reais por ano. Segundo uma pesquisa da Universidade de Londres, esse é o preço pelo bem-estar que seus amigos trazem. É ou não um bom motivo para marcar um happy hour nesse fim de tarde?

Crédito da foto: flickr.com/mathieustruck

Durma bastante para evitar o Alzheimer





Mais uma desculpa para você alongar seus minutos de sono: dormir pouco pode aumentar suas chances de ter Alzheimer, concluiu uma pesquisa feita por David Holtzman, da Universidade de Washington. Segundo ele, o comportamento pode levar o cérebro a produzir placas tóxicas, que ajudam a desenvolver a doença. Essas placas matam as células boas e impedem a "conversa" entre os neurônios.

A conclusão apareceu depois que David percebeu que essas placas aumentavam muito quando os ratos (cobaias) eram forçados a ficar acordados por mais de 20 horas diárias. O cientista disse ao site da Newscientist que dormir um período considerado regular – de oito horas por dia – já evitaria a formação das mesmas.



Tomar refrigerante é tão perigoso quanto fumar




E por isso as latas deveriam vir com rótulos de alerta sobre o perigo, iguais aos estampados nas embalagens de cigarro. É o que dizem alguns pesquisadores, depois de um novo estudo apontar que beber refrigerante pode causar diabetes do tipo 2.

Quem decidiu investigar a relação entre a doença e o hábito de beber refrigerante foi o pessoal do Imperial College, em Londres. Eles perguntaram a 12 mil pessoas já diagnosticadas com a doença sobre a dieta de cada um – e quantas latinhas de refrigerantes costumavam tomar por dia. Outras 16 mil pessoas, sem diabetes, também foram entrevistadas.

Perceberam uma tendência negativa: tomar 360mL de refrigerante (equivalente a uma lata) por dia aumenta em 22% o risco de ter a doença. E o problema não atinge apenas obesos. Refrigerante faz mal mesmo para pessoas com peso normal – só que nesse caso o risco de ter diabetes do tipo 2 sobe “só” 18%.

“Se existe algum item da nossa dieta que age como o tabaco, este item é o refrigerante [e outras bebidas industrializadas que vêm cheias de açúcar]”

Explica Barry Popkin, da Universidade da Carolina do Norte, ao Sunday Times. “Os rótulos dessas bebidas deveriam explicitar a quantidade de açúcar e alertar que o consumo tem de ser limitado”, diz Nick Wareham, um dos autores da pesquisa.

O problema é que o refrigerante parece aumentar a resistência da insulina no organismo. Por mais que a substância esteja presente no corpo, os níveis de açúcar no sangue continuam altos, o que caracteriza a diabetes do tipo 2.

Que perigo, não? Melhor trocar o refrigerante por um suco natural.


Crédito da foto: blogspot.com/fantalichiacamboja





quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

Ele está entre nós



É o que garantem um guarda de trânsito, um agente secreto que se veste de mulher, um assassino... Conheça a incrível coleção de pessoas que dizem ser a verdadeira reencarnação de Jesus Cristo.



Sergei não nasceu de mãe virgem nem ganhou presente dos 3 reis magos. Álvaro ainda não aprendeu a multiplicar pães e faltou às aulas de transformação de água em vinho. José Luis não andou sobre as águas e Jim não morreu na cruz. Mas isso não quer dizer que não façam milagres. Alguns até ganham certa fama por isso: fiéis com câncer alegam que foram curados por eles. Já outros, como Marshall, lideram suicídios coletivos. A maioria serve como conselheiro, com críticas à sociedade e à Igreja, e profetiza sobre o fim do mundo. Todos dizem que, em algum momento da vida, receberam um aviso e missão divinos. Em comum, uma convicção: eles são Jesus Cristo.

São dezenas de pessoas. Há exemplos de praticamente todas as etnias e continentes. Para alguns deles, encarnar o filho de Deus que se sacrificou pelos homens não basta. Suas vidas passadas incluem figuras tão distintas quanto Confúcio e a rainha Elizabeth 1ª da Inglaterra. O japonês Shoko Asahara, mentor do ataque ao metrô de Tóquio que matou 12 pessoas em 1995, diz ser Jesus, Buda e Shiva. Como ele, outros líderes com forte apelo a profecias apocalípticas e críticas à sociedade fundaram seitas que se revelaram perigosas (leia mais na pág. 74).

Mas é muito Cristo para pouca profecia. Segundo a Bíblia, o Messias foi um só e apenas ele carrega a verdadeira mensagem divina de salvação. Segundo o Apocalipse de são João, Jesus voltará à Terra para o confronto final com o diabo. É Cristo quem vai conduzir os fiéis ao paraíso. "Há divergências na interpretação das escrituras, mas, no geral, a crença é que os infiéis vão para o inferno com o fim do mundo", diz o professor Edson Martins, doutor em Ciências da Religião pela Universidade Metodista de São Paulo.

No texto religioso, o Juízo Final é antecedido por uma série de catástrofes, que incluem chuva de fogo e o ataque de monstros sobrenaturais. "A incoerência é essa. O Cristo vem e traz o fim do mundo. Mas quem se diz Jesus já está aqui e o mundo ainda não acabou!", afirma Rodrigo Franklin, coordenador de graduação da Escola Superior de Teologia da Universidade Presbiteriana Mackenzie.

Crise e fé

Apesar de incoerências como essas, o fenômeno se repete com maior ou menor intensidade nos últimos séculos. Em geral, crises econômicas influenciam na aparição e devoção a esses messias. "Vivemos ondas periódicas, de 10 a 15 anos, quando esses fenômenos aparecem com mais frequência. Nos momentos de ruptura e crise, o imaginário coletivo cria essas crenças sobre o fim do mundo. E esses movimentos devem voltar a surgir, por causa de 2012", diz Franklin. Alguns (maus) intérpretes do calendário maia, ajudados por Hollywood, se encarregaram de disseminar a data.

Nos movimentos messiânicos tradicionais, como era o de Antônio Conselheiro em Canudos, o líder prevê a chegada do messias, mas não se intitula como o próprio. "Suponho que as pessoas que acreditam ser Jesus seriam, no melhor caso, automessiânicas", afirma o historiador de religiões Robert Ellwood, membro da Sociedade Teofísica na América. Ainda quem não diga que seja pode levar a fama. Hailé Selassié 1º, patrono do movimento rastafári, não se rotulava como messias, mas seus seguidores ainda o anunciam como um novo Jesus Cristo.

O que leva um guarda de trânsito na Sibéria, um ex-agente do serviço secreto britânico ou um garçom brasileiro a dizer "Eu Sou Jesus"? Eles são doidos? Psicólogos concordam que esses Cristos poderiam ser diagnosticados com distúrbios de personalidade ou esquizofrenia. Mas só análises específicas poderiam responder à pergunta. No caso do Jesus brasileiro, o psicólogo Henri Cosí, autor de Inri Cristo: Louco, Farsante ou Messias?, aplicou testes para investigar qualquer indício de doença mental. Tanto Inri quanto seus discípulos apresentaram completa sanidade.



Conheça os novos Cristos mais inusitados da nossa época.

POLIGÂMICO - VISSARION (SIBÉRIA, RÚSSIA)

No centro da Sibéria, Sergei Torop desbravou o inverno russo como Vissarion. Por 1 ano, difundiu os ensinamentos de seu livro O Último Testamento de Cristo. Arrebatou seguidores e, em 1992, eles instalaram sua terra prometida na vila de Petropavlovka. Torop era casado e trabalhava como guarda de trânsito. Com a crise após o fim da União Soviética, perdeu o emprego e despertou: era Jesus! Adotou o visual de messias e, aos poucos, os discípulos ergueram a comunidade, que produz a própria comida. As garotas são educadas para a vida doméstica. "As mulheres foram feitas para seguir o marido", diz uma discípula no documentário Eu Sou Jesus, de Heloísa Sartorato e Valerie Gudenus. Vissarion, tratado como "O Professor", orienta as esposas a, eventualmente, aceitar outra mulher na casa. Todo crente doa 10% dos ganhos à igreja... E eles são 10 mil espalhados pelo mundo.


MODERNINHO - DAVID SHAPLER (INGLATERRA)

David Shayler é uma figura atípica entre os pares. A começar pela descoberta da identidade. Foi numa viagem com cogumelos alucinógenos, em 2007. Um espírito apareceu e deu a notícia. Desde então anda com roupas brancas e sem sapatos. E não dispensa um cigarrinho de maconha. O inglês foi agente do MI5, o serviço secreto britânico. Abandonou o posto quando, segundo ele, a agência coordenava a criação da Al-Qaeda, com o objetivo de matar o líbio Muamar Kadaffi. Denunciou o esquema à mídia e acabou preso. Mas isso foi antes da revelação. Hoje, Shayler anuncia o fim do mundo para 2012 e critica o estilo de vida da sociedade. Acha que sua missão é mostrar o caminho do amor incondicional. Ele vive com alguns amigos numa comunidade seminômade, ocupando casas vazias em Londres ou no interior da Inglaterra. O grupo enfrenta problemas judiciais por invadir as casas (e se recusar a pagar pela moradia) e alimenta-se do lixo que recolhe de mercados. Shayler também curte ser mulher. Quando se monta, vira Delores Kane. Mas alega que isso nada tem a ver com homossexualidade. "É como balancear as coisas [os lados feminino e masculino], como se eu pudesse esquecer que sou David Shayler", diz em Eu Sou Jesus. Ué, mas ele não era Jesus?


JESUS MÚLTIPLO - ERNEST L. NORMAN (CALIFÓRNIA, EUA)

Fundou a Academia de Ciência Unarius, em 1954, junto com a mulher. Dizia que foi Jesus numa vida passada, além dos filósofos Confúcio e Sócrates, entre outras figuras. Promovia a "compreensão interdimensional da energia: a união entre ciência e espírito". Norman morreu em 1971, mas a Unarius ainda se mantém e oferece terapia de vidas passadas para curar todo tipo de mal.


JESUS RASTAFÁRI - HAILÉ SELASSIÉ 1º (ETIÓPIA E JAMAICA)

Regente e depois imperador da Etiópia (até pouco antes de morrer, em 1975) ele nunca afirmou ser Jesus ou qualquer outro messias. No entanto, inspirou a criação da religião rastafári e seus discípulos (hoje cerca de 1 milhão de pessoas) o viam como a encarnação de Jah (Deus) ou a reencarnação de Jesus.


BRASILEIRO - INRI CRISTO ("NOVA JERUSALÉM" (BRASÍLIA), BRASIL)

Álvaro Thais obedece a uma voz que escuta desde os 5 anos. Aos 13, a pedido dela, saiu da casa dos pais adotivos em Santa Catarina e foi morar na rua. Viveu de bicos como astrólogo e garçom. Aos 31, jejuou por 4 dias. Foi quando Deus abriu o jogo. Ele era Jesus e deveria mudar o nome para Inri Cristo. Sua missão era pregar o amor, "ajudar a pessoa a pensar por si mesma sem ser escrava de uma religião". Em 1982, juntou uma multidão numa praça em Belém e seguiu até uma igreja. Não chutou a santa, mas arrancou o boneco de Jesus da cruz e atirou-o no chão - passou 1 mês preso como desordeiro. Com a fama, Inri viajou dentro e fora do Brasil, ganhou adeptos e financiadores. Hoje, aos 63, tem agenda cheia e vive numa grande e confortável chácara em Brasília, onde está a sede da Suprema Ordem Universal da Santíssima Trindade. Lá, sexo e carne vermelha são proibidos. As 15 discípulas administram o lugar e gravam músicas de louvor a ele. Para distrair, um passeio de moto ou uma partida de sinuca. "A diferença entre mim e os falsos profetas é que eles só pensam em lucro por meio de benefícios materiais ou louvores egocêntricos", diz.


JESUS SUICIDA - JIM JONES (JONESTOWN, GUIANA)

O americano tentou a carreira política, sem sucesso. Era adepto da miscigenação racial e do comunismo. Misturando seus ideais, criou a seita People¿s Temple (Templo das Pessoas). Com problemas nos EUA, levou a sede para a Guiana. Lá, em 1978, mais de 900 pessoas cometeram suicídio. Ele não ganhou fama como Jesus, mas no fim da seita já admitia ser Cristo reencarnado.


JESUS VENENOSO - SHOKO ASAHARA (TÓQUIO, JAPÃO)

Líder da seita Verdade Suprema, arquitetou o atentado terrorista no metrô de Tóquio, em 1995. Seus seguidores jogaram gás sarin nas estações, atingindo 6 mil pessoas (12 morreram). O plano era provocar uma guerra e aumentar sua influência no país. Ele dizia ser a reencarnação de Shiva, um deus hindu, Buda e Jesus. Acusado de 13 crimes, foi condenado à forca em 2004.


E.T. - MARSHALL APPLEWHITE (SANTA FÉ, EUA)

O espírito de Cristo voltou à Terra no corpo de Marshall Applewhite. Mas ele precisou ter um ataque cardíaco para se dar conta. Aos 39 anos, recém-divorciado, era professor e tinha talento para a música. Com o enfarte, numa experiência de quase morte, descobriu as ligações extraterrestres da alma. E concluiu: nosso corpo é só um contêiner para ela. As almas seriam espíritos de outro planeta que desencarnavam aqui, como humanos. Assim aconteceu há 2 mil anos, quando o espírito Do entrou no corpo de Jesus. E voltou em Applewhite. Ao sair do coma, ele começou a procurar as almas que teriam chegado na nave de Do e se dispersado ao pousar. Ele via seus seguidores na seita Heaven¿s Gate (Portão do Paraíso) como os membros daquela tripulação. O culto buscava a volta ao planeta original. Dizendo que seus espíritos seriam libertados, Applewhite orientou os discípulos reunidos na cidade de Santa Fé a cometer suicídio para encontrar a nave que os levaria de volta. Em março de 1997, quando o cometa Halle-Bop se aproximava da Terra, 39 pessoas (o líder entre elas) tomaram uma dose letal de barbitúricos com molho de maçã, pudim e vodca.


ENCARCERADO - MICHEL TRAVESSER (NOVO MÉXICO, EUA)

Wayne Bent, conhecido como Michael Travesser entre seus seguidores, previu o fim do mundo para 31 de outubro de 2007. Obviamente, não acertou. Sob o suposto comando de Deus, pediu que algumas discípulas tirassem a roupa e as tocou. Sob ordem da Justiça, acabou na prisão. Sua trajetória religiosa começou em 1989, quando convenceu alguns adventistas a abandonar a igreja e segui-lo numa vida sem pecados. Mas só em 2000 ouviu Deus dizer: "Você é o Messias!" Tempos depois, transou com 2 de suas fiéis por ordem divina. No mesmo ano, os discípulos o acompanharam até uma casa no Novo México. Lá, poderiam sobreviver ao fim do mundo. No período de reclusão e espera, Travesser era guiado pela voz dos céus. Em rituais de cura, a voz dizia a ele para despir algumas garotas e tocar o corpo delas. Mas elas acreditavam no poder do líder, "sentiam paz". A calmaria só acabou com a exibição de um documentário sobre a seita. Ao ouvir os relatos sobre nudez, a polícia agiu. Em 30 de dezembro de 2008, ele foi condenado a 10 anos de prisão por tocar nos seios de uma garota de 16 anos, entre outras acusações. Por ora, vive sua própria via crucis numa cela.


ANTICRISTO - JOSÉ LUIS DE JESUS MIRANDA (MIAMI, EUA)

Nos 710 centros de culto em 25 países, José Luis de Jesus Miranda é chamado de "Papai". Ao fundar a igreja Creciendo en Gracia, há 25 anos, o porto-riquenho virou "Jesus Cristo Homem" e criou um império poderoso. A vida dele mudou em 1973, quando 2 espíritos avisaram que Deus entraria no seu corpo, assim como teria acontecido com Jesus, há 2 mil anos. Antes, uma voz lhe sugeriu sair de Porto Rico e ir para Miami, onde fundaria o ministério. Estudando a Bíblia, concluiu que Paulo, e não Pedro, seria o real porta-voz dos ensinamentos cristãos. Um dos seus papéis é corrigir esse erro. Outro deles: Miranda afirma ser o Anticristo - aquele que veio para "desfazer a apostasia que oprime, empobrece e entristece a igreja". Para seus fiéis, o "666" vira tatuagem e tem significado positivo. Ele jura que o mundo vai acabar em 2012 e só os predestinados serão poupados, possivelmente seus seguidores. "Quem segue a palavra do Papai tem algo de especial", diz a bispa Telma Soares, de um centro paulistano. Os discípulos pagam o dízimo e fazem ofertas de valor livre. "Mas é como Papai diz... `Se você planta 1 grão de milho vai ter 1 planta, se planta 2, vai ter 2¿."


Para saber mais

I Am Jesus
Documentário, 2010. www.fabrica.it/project/i-am-jesus-trailer

12 receitas para o fim do mundo

O planeta vai acabar um dia? Para a ciência, não é uma questão de "se", mas de quando. Conheça as posssibilidades mais prováveis - e as mais inusitadas.



Desde que o mundo é mundo, vira e mexe ele acaba. Pior: o planeta tem data para morrer. Mesmo que a humanidade evite guerra nuclear, aquecimento global ou o que for e sobreviva a pancadas com asteroides, novas eras glaciais ou invasões alienígenas, o fato é que já estamos perto do fim da linha - geologicamente falando, pelo menos. Se o planeta fosse uma pessoa com a expectativa de vida na casa dos 80 anos, neste momento ele seria um senhor de 66.

A Terra nasceu há 4,6 bilhões de anos. Quando chegar aos 5,6 bilhões, porém, será um planeta morto. A vida por aqui tem só mais 1 bilhão de anos pela frente, e isso na mais estupidamente otimista das hipóteses. É que o Sol vai estar mais forte e brilhante lá na frente e fazer evaporar todos os oceanos da Terra. Isso, por sua vez, causará um efeito estufa ainda mais devastador, tornando o planeta inteiro um inferno escaldante. Mas dificilmente vamos chegar até lá e testemunhar esse cenário. A vida na Terra praticamente acabou 5 vezes. Isso só no último meio bilhão de anos. A mais conhecida dessas fases de extinção em massa aconteceu há 65 milhões de anos. As vítimas mais famosas você conhece bem: os dinossauros. Já a extinção mais severa foi há 251 milhões de anos, matando 83% de todos os gêneros de espécies existentes então.

O mundo já acabou para 99% de todas as espécies que surgiram desde que a primeira de todas as formas de vida apareceu, há 3,5 bilhões de anos.

As criaturas que hoje habitam a Terra são apenas uma pequena fração de todas que já existiram. E as razões para seu sumiço são as mais diversas. A maior probabilidade, então, é que o mundo vai acabar temporariamente diversas vezes nos próximos milhões de anos - e muito provavelmente levar a gente junto. Dependendo da causa, pode até mesmo acontecer em breve. Veja agora as 12 receitas mais prováveis para acabar com a brincadeira da vida neste nosso pequeno canto da galáxia.

Finais mais prováveis

Asteroides


Há mais de mil deles perto da Terra, esperando a hora de cair.

A ameaça é real. Um asteroide pode colidir com a Terra e acabar com a gente. Ou melhor, acabar com quase tudo. Os astrônomos estimam que existam cerca de 1,1 mil desses bólidos com 1 km de diâmetro ou mais passando rotineiramente pelas redondezas da Terra - todos com o potencial de causar uma catástrofe planetária. Astrônomos têm trabalhado duro para descobrir esses objetos - já foram encontrados cerca de 800. O Brasil também está engajado nessa busca, com um telescópio instalado em Pernambuco, cujo objetivo é justamente monitorar esses pedregulhos. E acompanhá-los é preciso, embora não muitos astrônomos façam esse esforço após a descoberta inicial.

"De todos os objetos descobertos, 80% são perdidos logo em seguida", afirma Daniela Lazzaro, pesquisadora do Observatório Nacional especializada em asteroides e líder do Projeto Impacto, que se dedica a descobri-los no céu. "Eles são monitorados por pouco tempo, uma órbita preliminar é calculada, vê-se que não vão se chocar com a Terra e depois eles são abandonados." O problema é que o mundo dá voltas. Ou melhor, os mundos dão voltas. Enquanto giram ao redor do Sol, como são relativamente pequenos, os asteroides podem mudar de órbita e aí entrar em rota de colisão com a gente. Daniela trabalha na busca e na caracterização desses bólidos - para se certificar de que eles não vão mesmo trombar com a Terra. De toda forma, sempre há o risco de um objeto ser descoberto em cima da hora em rota de colisão - e não haver tempo para tomar alguma medida, como lançar uma bomba atômica que desvie a rota do objeto.

Ser atingido por um asteroide, enfim, é um método testado e aprovado para o extermínio em massa, que o digam os dinossauros, extintos numa pancada com um pedregulho de 10 km de diâmetro 65 milhões de anos atrás. Se um episódio similar acontecesse hoje, seria o fim para nós também. O problema não é tanto o impacto em si, que é localizado, mas as consequências dele. Sobem trilhões de toneladas de poeira na atmosfera e a luz do Sol é bloqueada por meses. As plantas morrem. Sem o pasto, o que o boi vai comer? E, sem o gado, o que será das churrascarias rodízio? Você entendeu a ideia... A estimativa dos cientistas sobre a frequência de impactos realmente catastróficos varia bem - os intervalos podem ser largos (a cada 1 bilhão de anos) ou nem tanto (a cada 100 milhões de anos). Mas o que passa o recado de forma ainda mais clara vem lá de cima: vira e mexe, os astrônomos encontram um asteroide que passou ou passará raspando pela Terra. E é como no futebol. O sujeito chuta uma bola na trave, duas, três... Uma hora sai o gol.


Nova guerra fria

Há 22 mil ogivas nucleares no mundo. Os donos dos maiores arsenais continuam sendo Estados Unidos e Rússia. Mas, como a Guerra Fria congelou faz tempo, o risco de uma catástrofe atômica acabou, certo? Errado. O problema é que neste momento vários países não exatamente amigáveis andam desenvolvendo suas próprias armas nucleares, caso do Irã. Se o país anunciar que tem a bomba, ele dará início a uma corrida nuclear em todo o Oriente Médio, que já é um barril de pólvora hoje. Se começa uma guerra fria por lá, a chance de que ela esquente é real. E ainda existe a hipótese de que algum grupo terrorista arranje suas próprias ogivas. Daí para uma guerra global suicida, pode ser um pulo.


Super-vulcões



Quando um vulcão no Chile ou na Islândia começa a soltar cinzas no ar, já é um transtorno. Mas tudo isso é fichinha perto do que podem fazer os supervulcões. Um supervulcão é tão grande que nem dá para ver. A boca dele fica no chão e está coberta de terra. E que boca: caberia uma cidade inteira dentro dela. "Uma das primeiras evidências dos supervulcões foi a descoberta de enormes vales circulares, alguns com 30 a 60 km de largura, que se pareciam com as caldeiras localizadas no topo de muitos dos vulcões mais conhecidos do planeta, só que em tamanho família", conta o geólogo russo Ilya Bindeman, especialista no assunto. Imagina-se que o famoso parque americano Yellowstone seja todo ele a boca de um supervulcão, ainda que coberta de terra, e que haja outros na Indonésia e na Nova Zelândia. "Caso um deles entrasse em erupção, recobriria sua região do globo de cinzas em questão de horas", diz Bindeman, indicando que, nos Estados Unidos, isso aconteceu pelo menos 4 vezes nos últimos 2 milhões de anos. A última há 640 mil anos, e nada impede que a próxima aconteça em breve. O maior problema é que as erupções afetam dramaticamente o clima e alteram a composição da atmosfera.

Mesmo nas erupções dos vulcões convencionais, já se vê uma queda na temperatura média do planeta (as cinzas que eles soltam bloqueia a luz solar). No caso dos gigantes em ação, nosso mundo poderia virar uma geladeira. Isso sem falar que os gases ejetados por vulcões podem abrir rombos na camada de ozônio, que protege a superfície da radiação nociva do Sol. "Uma erupção de supervulcão tem a força da colisão de um pequeno asteroide, mas ocorre com frequência dez vezes maior", diz Bindeman.


Sol infernal



Esse é o fim certo da vida na Terra. O Sol, muito gradualmente, vai se tornando mais quente com o passar do tempo. No passado, era mais frio. No futuro, estará mais ativo. Em cerca de 1 bilhão de anos, a história será outra. O aumento da radiação solar provocará a evaporação de toda a água da Terra. O acúmulo de vapor aumentará ainda mais a temperatura e terminaremos não muito diferentes de Vênus, com temperaturas de 400 °C. Depois vai piorar. Quando o Sol chegar ao fim de sua vida, daqui a 7 bilhões de anos, ele vai crescer até ocupar 3/4 do céu. Será tanto calor que as montanhas derreterão. E depois o Sol aumenta mais um pouquinho, engolindo a Terra. A única saída seria ir empurrando o planeta para cada vez mais longe do Sol, no mesmo ritmo em que ele esquentasse.


Finais plausíveis

Adeus, campo magnético

Parece estranho, mas a vida na Terra depende do campo magnético do planeta. Sem ele, nosso DNA acabaria danificado. E provavelmente deixaríamos de existir.

O campo magnético da Terra é uma entidade bacana: faz com que todas as bússolas apontem para o norte. Sem ele (ou seja, sem as bússolas), as Grandes Navegações do século 16 teriam acontecido séculos mais tarde. E hoje este texto talvez não estivesse em português. Mais: diversas espécies migratórias evoluíram com um sexto sentido capaz de detectar o campo magnético para guiar suas rotas de viagem. Mas hoje, que o GPS substituiu a bússola, ele é pouco mais que uma curiosidade, não?

Negativo. Ele é importante para a vida na Terra. O campo magnético funciona como uma barreira protetora contra a radiação nociva que vem do espaço. É um campo de força invisível, feito de energia. E ainda bem que ele está firme sobre a nossa cabeça: esses raios cósmicos são extremamente perigosos. Radioativos, eles atravessam nosso corpo e danificam nosso DNA, causando mutações. Em geral, o resultado desse processo é o surgimento de cânceres. Péssimo.

Tudo bem, a atmosfera também tem um papel nessa proteção, mas o trabalho é dividido com o campo magnético. Juntos, eles têm uma eficiência equivalente à de uma parede espessa de concreto. Agora as más notícias. Não é inconcebível que o campo magnético da Terra um dia bata com as 10. Na verdade, cientistas têm monitorado a intensidade do campo nas últimas décadas e sua intensidade tem caído drasticamente. "O campo geomagnético primário enfraqueceu quase 10% desde que foi medido pela primeira vez, nos anos 1830", afirma o geofísico Peter Olson, da Universidade Johns Hopkins. Ninguém acredita que esse seja um sinal do fim. Na verdade, o consenso é de que se trata de um sintoma de que o campo magnético da Terra está se invertendo. É isso mesmo: quando o processo terminar, a bússola vai apontar para o sul. Do lado de fora da Terra, nenhuma mudança visível. Todo o processo acontece do lado de dentro. É o ferro derretido na região externa do núcleo que se movimenta, alimentado pelo calor interno do planeta, e propicia a transmissão de cargas elétricas, produzindo o campo magnético. Vira e mexe, há uma inversão de polos mesmo. O sul magnético vira norte, e vice-versa.

Se for só isso, não é nada dramático. Apenas algumas aves vão sofrer um pouco para se adaptar, mas não estaremos diante de uma catástrofe. Mas a hipótese de que o campo magnético da Terra seja desligado de vez no futuro não pode ser completamente afastada. De fato: há evidências de que esses campos magnéticos não duram mesmo para sempre. Em Marte, por exemplo, é possível detectar sinais de que já houve um. Mas hoje nem sinal dele. Essa é uma das razões de haver tanta radiação na superfície lá - e nenhuma (ou quase nenhuma) vida.


Supervírus

Imagine um vírus letal como o HIV, mas que se espalha fácil como o da gripe. Se a natureza não produzir um por conta própria, nós poderemos fazer por conta própria. A possibilidade de combinar a engenharia genética ao arsenal de organizações terroristas é mais que especulação. Com a tecnologia de hoje, dá para fabricar vírus terríveis usando o código genético deles. Para provar que dá pé, pesquisadores da Universidade de Nova York criaram do zero um novo vírus da pólio. A mesma técnica tem como ser aplicada a vírus mais violentos, capazes de virar armas biológicas, caso do da varíola. "Nosso trabalho serve como prova do que pode ser feito", afirma Jeronimo Cello, um dos autores do estudo. E, quando uma armar pode ser feita, alguém acaba fazendo.


Estufão

Você até já enjoou de ouvir falar em aquecimento global, o fato de que o mundo deve esquentar 4 ou 5 °C nos próximos 100 anos. Ok. Mas e se forem 400 °C? É o que o efeito estufa causou em Vênus, onde faz 480 °C. À noite... Isso pode acontecer aqui? "A humanidade está engajada num experimento maciço e descontrolado no clima terrestre", afirma o biólogo David Grinspoon, um especialista em estudos planetários. "A investigação de Vênus deu aos cientistas novos lampejos sobre como responder a uma questão básica: quão estável é o clima terrestre?" A resposta mais confiável até agora: não sabemos.


O fim numa bola de neve



Resfriamento global. Nos anos 70, esse seria o responsável mais provável pelo fim do mundo. Agora, que só se fala em aquecimento global, o resfriamento saiu de moda. Mas como hipótese continua tão realista quanto antes. Ou mais. Pesquisas relativamente recentes mostram que podemos, sim, acabar congelados. E a Terra, toda coberta de neve, dos polos até a linha do Equador. Por quê? Porque isso já aconteceu antes. As evidências de uma Terra Bola de Neve (é assim que a teoria é chamada) vêm de meio bilhão de anos atrás. Elas foram levantadas por Paul Hoffman, de Harvard, e seus colegas, em 1998, ao estudar sedimentos na Namíbia. Há 600 milhões de anos, aquela região devia estar próxima da linha do Equador, mas suas rochas continham sinais inconfundíveis de geleiras, seguidos por uma camada marcada por depósitos de carbonatos, associada a mares muito rasos. Para Hoffman, eram evidências claras de pelo menos um episódio Terra Bola de Neve. Isso ia ao encontro dos cálculos que o cientista russo Mikhail Budyko fez nos anos 60: ele calculou que, se a quantidade de gelo nos polos passasse certo limite, ela iria se expandir para tomar o globo todo. Como? Se a superfície é mais clara, ele reflete mais radiação do Sol. Quando o gelo começa a se expandir, sua superfície branca passa a refletir mais energia solar de volta para o espaço, em vez de absorvê-la. Com isso, o planeta fica mais frio, e aparece mais gelo, que aumenta a reflexão, e assim por diante, até ficar tudo congelado. "Essa teoria ganhou apoio cauteloso da comunidade científica desde que nós a introduzimos primeiro", afirma Hoffman. Contudo, ele admite que ninguém sabe direito, até hoje, o que inicia um processo descontrolado de resfriamento e, por isso mesmo, não há quem se arrisque a dizer que não vai acontecer de novo.


Finais esdrúxulos

Envenenamento da atmosfera

O oxigênio já foi um veneno que extinguiu praticamente todas as formas de vida da Terra - e só poupou quem sabia tirar proveito dele: nossos antepassados.

Imagine que a evolução da vida na Terra acabe por produzir uma bactéria que emita uma substância altamente tóxica, letal a quase todas as formas de vida. Esse gás iria se acumulando na atmosfera e, em questão de tempo, envenenaria completamente o ar, levando a uma onda global de extinções - o fim da humanidade incluído. Fantasia? Pois saiba que já aconteceu, e nós só herdamos o planeta por causa disso, até. Cerca de 3,5 bilhões de anos atrás, a vida já dava seus primeiros passos seguros no planeta. E foi nessa época que surgiram as primeiras criaturas capazes de fazer a fotossíntese. Hoje, achamos a capacidade de converter a luz do Sol e o gás carbônico em oxigênio uma coisa linda. Naquela ocasião, contudo, a novidade não foi apreciada. A imensa maioria das bactérias primitivas não queria nada com o oxigênio. Elas haviam nascido e evoluído num ambiente livre desse gás. Então, quando tiveram de encará-lo na atmosfera, foi... digamos que foi uma aula prática de darwinismo. Aquilo era veneno para elas. Talvez você não se sensibilize com o sumiço de bactérias, mas vale dizer que elas eram tudo que existia na Terra naquela época. E o dramático é que o aumento da quantidade de oxigênio, do zero para os 20% da atmosfera que vemos hoje, parece ter acontecido bem rapidamente. Foi bom para os poucos micro-organismos que aprenderam a tirar energia do oxigênio - caso dos nossos antepassados unicelulares, que deram origem não só à gente como também a todas as outras formas de vida - das bactérias modernas aos peixes, lagartos e gorilas, todos nossos parentes. E fãs de oxigênio. Mas foi péssimo para a maior parte da vida da época, claro.

Os responsáveis por lançar esse veneno no ar foram os antepassados das plantas - algas microscópicas que faziam a fotossíntese. Mas não foram só elas as reponsáveis. Por centenas de milhões de anos, o oxigênio que elas produziam era simplesmente absorvido pelas rochas - é o que acontece quando a lataria do seu carro enferruja: o aço suga oxigênio, ele "oxida". Mas uma hora esse processo diminuiu drasticamente, e boa parte do oxigênio que as algas produziam ficou livre no ar. O motivo? "Rochas antigas estão ajudando a produzir um quadro de como isso se deu", afirma Lee Kump, geólogo da Universidade Estadual da Pensilvânia. Aparentemente, vulcões levaram ao solo rochas já altamente oxidadas, incapazes de absorver mais do elemento. Ok. Mas é possível acontecer outro envenenamento global como esse? A evolução não é previsível, mas, em momentos de grandes mudanças ambientais, ela costuma se acelerar. Há um ano, inclusive, pesquisadores da Nasa descobriram uma forma de vida que se alimenta de arsênico, um veneno. Era só uma bactéria. Mas nossos antepassados respiradores de oxigênio também eram.


Bilhar estelar

O Universo parece até um lugar relativamente organizado, quando contemplamos belas imagens do espaço. Pois ele é tudo, menos isso. O tempo todo coisas estão se chocando umas com as outras. A probabilidade de uma estrela colidir com o Sol, enquanto ambos giram em sua órbita ao redor do centro da Via Láctea, é baixíssima. Mas não é preciso que elas batam para fazer o estrago. Se uma estrela passar relativamente perto da outra, pode ser o suficiente para desestabilizar a órbita dos planetas - a Terra incluída. Seria sem dúvida o fim para nós. "Um evento desses costuma acontecer na nossa região da galáxia a cada 10 mil anos", destaca Cassio Leandro Barbosa, astrônomo da Universidade do Vale do Paraíba, em São José dos Campos. "Mas, como a área em que está o Sol é relativamente vazia, o risco é menor." O que não quer dizer inexistente.


Supernova

São os eventos mais energéticos do Universo. Quando uma estrela se torna supernova (ou seja, explode), ela brilha mais que uma galáxia. Na Via Láctea, pipoca uma dessas a cada 100 anos. Se uma acontecesse perto de nós, a energia da explosão poderia acabar conosco. Se não destruindo o planeta inteiro, pelo menos banhando-o em tanta radiação que nenhuma forma de vida poderia resistir. E o pior: há uma estrela dupla, chamada Eta Carinae, que está a 7,5 mil anos-luz de distância e prestes a explodir. É próximo o bastante para causar estragos na Terra, caso ela emita uma rajada de raios extremamente energéticos em nossa direção. Agora, uma ressalva: "prestes", em astronomia, é nos próximos 30 mil anos.


A lei da natureza

"Somos a coisa mais fantástica que a Terra já produziu. Ninguém, nenhuma outra forma de vida, pode com a gente." Se entrevistássemos um tubarão, ele poderia muito bem declarar isso. Tubarões são o suprassumo da predação, o topo da cadeia alimentar. O que eles não sabem é que existe uma espécie surgida há apenas 200 mil anos e que nos últimos 100 agregou tecnologia o bastante para varrer todos os tubarões da face da Terra se assim julgar necessário. Por isso mesmo, somos tão vaidosos quanto os tubarões poderiam ser. Então achamos que pode acontecer qualquer coisa, menos sermos eliminados por um predador. Estamos errados. Mas, por ora, a despeito de todas as ameaças, dá para acreditar que o nosso mundo aguenta as pontas por um bom tempo. Feliz 2013!

Indo e vindo infinito 

O mistério do fim do mundo é uma das maiores forças de inspiração das religiões. Na maioria dos casos, é só uma metáfora para a ideia de renovação, de começo de um novo ciclo - uma ideia parecida com a da ciência, diga-se.

Desde sempre, teólogos e profetas de todas as crenças têm debatido como o mundo vai terminar. Há uma certa obsessão com o tema. Afinal, uma história que não acaba fica sem um acerto de contas. Como então as autoridades lá de cima vão separar os bons e os maus, os justos dos canalhas, o joio do trigo? Para as religiões, o fim do mundo é uma peça importante do quebra-cabeça. A tradição judaica claramente se debruçou um bocado sobre esse problema, motivada sobretudo pelas circunstâncias. Quando os persas (ou macedônios, ou romanos, ou... coloque aqui o opressor da vez) pagarão por seus crimes contra o povo de Israel? Dá-lhes Juízo Final. No Velho Testamento bíblico, o Livro de Daniel, escrito no século 2 a.C., dá o tom: ele prevê a vinda do Messias, destinado a libertar os judeus do jugo de seus opressores e iniciar uma era de paz interminável. O fim do mundo, aqui, é algo bom: um novo começo. O cristianismo é uma continuação direta da tradição jucaica, com uma importante modificação: o Messias já deu uma passada pela Terra para formar um novo pacto entre Deus e os homens (basicamente zerar a conta da humanidade e redimi-la de seus pecados), mas deve voltar numa futura oportunidade para libertar os cristãos, derrotar o Anticristo e seus aliados e, por fim, iniciar uma era de paz interminável. É a mesma lógica: quando João escreveu seu Apocalipse, anunciado por trombetas celestiais, no século 1, os cristãos estavam sendo perseguidos e mortos pelos romanos. Assim como, quando o Livro de Daniel foi escrito, os judeus estavam sob o jugo dos macedônios.

O fim do mundo como danação para os maus e redenção para os bons também acontece na religião muçulmana, nascida no mesmo caldo, no Oriente Médio. Mas nem judeus, nem muçulmanos, nem cristãos estavam sendo particularmente criativos. Zoroastro, por exemplo, já pregava a vinda de um profeta, Shaosyant, que ressuscitaria os mortos de sua cova e os levaria a um julgamento. No zoroastrismo, firmado em algum ponto entre os séculos 10 e 5 a.C., quando a hora chegar, um anjo de fogo derreterá as montanhas e o mundo será coberto por um oceano de lava. Os vivos e os mortos então terão de atravessá-lo descalços. Para os bons, será como caminhar sobre leite. Para os maus, não. Versões alternativas mesmo são mais comuns entre religiões mais antigas. Para o hinduísmo, por exemplo, que tem mais de 3 mil anos, a questão não é tanto o bem e o mal, mas a natureza do Universo. Ele seria cíclico, passando por fases de atividade e de repouso, e diversos deuses hindus parecem ter sua função específica na trama. Brahma, o maior deles, é o Criador. Cada dia na vida dele dura 4 bilhões de anos dos nossos - período que representa um ciclo na história do Universo, ou kalpa.

Os maias, badalados por causa de 2012, tinham essa mesma pegada cíclica. A data tão mencionada, 21/12/2012, marca o final de um ciclo num de seus calendários (eles usavam quatro calendários diferentes, dependendo da escala de tempo). Esse que ficou famoso começa em 11 de agosto de 3114 a.C. e termina depois de 1 milhão e 872 mil dias (5 125,37 anos). Ou seja, precisamente em 21/12/2012. Mas não existe uma ideia de "fim do mundo" ali. É só o fim de um ciclo mesmo, para o começo de outro. 

O inusitado é que essa visão cíclica do mundo é a que mais aproxima a religião da ciência. Sabe-se que o Universo, tal qual existe hoje, nasceu no Big Bang, há 13,7 bilhões de anos. Pelas contas dos cosmólogos, ao que parece, ele vai continuar se expandindo, até esfriar e terminar na mais absoluta sem-gracice. Contudo, existe a possibilidade de que, daqui a vários bilhões de anos (ninguém sabe quantos), o Cosmos troque a expansão pela contração. Isso levaria, em última análise, a um Big Crunch (o contrário do Big Bang), que provavelmente representaria um "reset" no Universo, para então começar tudo de novo, com uma nova expansão. Em suma, um novo ciclo. E uma coisa é certa: você estará lá. Provavelmente na forma de energia, aquilo que sobra depois que cada um dos átomos que forma o seu corpo for destruído. Mas que vai estar, vai. Então... até o próximo ciclo!


Para saber mais

Hora Final
Martin Rees. Companhia das Letras, 2005.

Rare Earth
Peter Ward, Donald Brownle, Springer, 2003.